sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Dois anos! Já!

A vida é interessante! :)

Hoje faz 2 anos que minha bolsa rompeu. Foi a única vez que uma bolsa minha rompeu. Na gestação da Mayara, a bolsa foi rompida na cesárea eletiva que tivemos há pouco mais de 4 anos. Não tive uma mísera contração e as desculpas para a cirurgia foram falta de dilatação, placenta velha, ultrassom suspeito. O motivo mesmo todos nós conhecemos: sofrimento obstétrico do nosso sistema de saúde. E também da nossa sociedade! Nem dá pra saber quem causou o sofrimento do outro. É um ciclo alimentado pela desinfomação, pelo excesso de tecnologia e pelo medo. Na gestação da Kyara eu teria a chance de viver tudo de forma mais natural. Acabou que só o rompimento da bolsa foi natural. A partir daí foram exames, monitoramento, medicamentos, terminando em mais uma cirurgia. (Continuo sem uma mísera contração.. rsrs) Claro, essa totalmente diferente da primeira. Mas cirurgia é sempre uma cirurgia e no caso de um nascimento, com o agravante de significar um não-parto.

Engraçado que há um ano, relatei aqui blog como foi o nascimento da Kyara. A cada dia (começando do dia 12) eu contava como tinha sido o mesmo dia no ano anterior. Foi bem legal fazer o relato assim. Foi emocionante e ao mesmo tempo doído. Eu escrevia com uma vontade de ainda querer voltar no tempo e ter o poder de mudar a trajetória das coisas. Foi importante para reafirmar que mudar tudo é bem improvável, mesmo que tivéssemos a chance de voltar, porque muito pouco depende só do nosso querer. Os fatos pelos quais somos submetidos são uma conjunção de outros fatos que acontecem no universo, dentre eles os provocados por nós mesmos. Sim, eu poderia mudar algumas (poucas) coisas, mas nunca saberemos se o caminho tomado a partir delas ia alterar o resultado final ou criar resultados mais desfavoráveis. (Já viram o filme Efeito Borboleta?). Até poucos dias atrás eu ainda tinha essa sensação! De querer que a Kyara nascesse de novo e diferente.

Hoje quando me toquei que era o dia 12 não senti isso. Não sinto mais isso! Me curei completamente dessa 2a cesárea? Eu respondo que sim. A gente prega cada peça na gente mesmo né!? Da cesárea da Mayara eu só me curei quando escrevi o relato (20 meses depois) e com os comentários e reflexões que se encadearam. Agora, tenho a sensação que no ano passado, a escrita daquele relato (da Kyara) foi a tentativa de me curar também. Claro, abriram vários horizontes, mas ainda não tinha terminado. Engraçado mais ainda que só minha amiga Malu fez um comentário aqui sobre o relato (na época) que não entendi. Ela disse "Ai Polly, Histórias tão iguais, pq parir pode ser tão difícil, não é amiga? Demora para cicartizar, mas temos a maternidade, e esta se apresenta com infinitas possibilidades." Quando eu li isto eu pensei "Por que ela está dizendo isso? Demora pra cicatrizar? Uai, será que ela acha que não estou cicatrizada!? Mas já estou cicatrizada!" Ledo engano! Não estava ainda! ;) E ela tem toda razão, a maternidade se apresenta com infinitas possibilidades! São essas infinitas possibilidades que trazem a cura! É o tempo! Somente ele! Eu sei que a elaboração não terminará nunca e acho bom que seja assim. Sempre teremos novas perspectivas das coisas. Ainda é assim no caso do nascimento da Mayara, mas parou de doer. E agora parou de doer a não-parida no nascimento da Kyara também.

Considero fundamental entender o máximo possível o motivo de tudo ter acontecido daquele jeito, mas no final a gente entende que não existe culpa. Cheguei a sentir no caso da Mayara, me sentia culpada e sofria por ter me deixado enganar. No caso da Kyara, nunca senti culpa, mas sentia dor (sem sofrimento), um aperto no peito de querer que tudo tivesse sido diferente. A diferença nos dois casos é que no segundo eu protagonizei a experiência e não me senti conduzida, mas conduzindo. É assim que se evita o sofrimento. Existiu a dor de não ter parido, mas existe a alegria de ter feito tudo o que a Polly daquele momento podia fazer. "A dor é inevitável. O sofrimento é opcional. Não podemos evitar a dor, mas podemos evitar a alegria" (You gotta keep dancin, de Tim Hansel).